“Sua Majestade (...) sensibilizou-se com a notícia (...) do feliz nascimento de seu querido filho”
A criança nasceu em casa, em Paris, na rue Bergére, às seis da tarde de 28 de agosto de 1829. Três dias depois, Pierre foi ao cartório onde, às 13h30, cumpriu a determinação do pai biológico. Deu ao recém-nascido o nome Pedro de Alcantara Brazileiro. O sobrenome, porém, seria de Saisset, já que o francês assumiu a paternidade do menino. Mas não de graça. A vida de comerciante havia lhe ensinado que tudo nesse mundo tem um preço.
Apesar de o adultério da esposa representar uma forte exceção à lei de 1816, que aboliu o divórcio na França, Pierre optou por manter a relação com Clémence. O código penal aprovado por Napoleão Bonaparte em 1810 dava-lhe poderes para, inclusive, além da surra que já havia aplicado na mulher, encerrá-la em uma prisão por até três anos. Orgulho, moral e honra eram os sentimentos que definiam as relações sociais na França do século XIX.
Mas, juntos, o casal enxergou um segundo caminho. Por que não capitalizar em cima do ocorrido? Logo de imediato, acionaram os representantes de Sua Majestade, dando-lhes notícias do nascimento. “Apresso-me em responder a sua encantadora carta, datada de 4 de setembro, recebida no dia 29 do mesmo mês, e submetida imediatamente a Sua Majestade o Imperador, que muito sensibilizou-se com a notícia do seu bom parto e do feliz nascimento de seu querido filho” 16, diz o bibliotecário Germano Lassere em carta datada de 29 de novembro de 1829, endereçada a Clémence de Saisset.
Ele prossegue afirmando que “Sua Majestade o Imperador ordena-me, senhora, que faça chegar ao seu conhecimento a grande alegria deste momento, assim como acusar a recepção das vossas cartas e dizer-lhe que elas serão respondidas pelo Sr. Francisco Gomes.”17 A carta de Lassere revela que D. Pedro estava preocupado em não causar à segunda esposa, D. Amélia, o mesmo descontentamento vivenciado pela Imperatriz Leopoldina. “Sua Majestade não poderá escrever-lhe diretamente devido aos inconvenientes desastrosos que poderiam ofetar o seu casamento, caso essas cartas fossem interceptadas ou divulgadas.” 18
O bibliotecário de D. Pedro garante à francesa, no entanto, que ela e seu filho jamais seriam desamparados. “Sua Majestade o Imperador ordena-me, igualmente, senhora, dizer-lhe que embora as circunstâncias não lhe permitam corresponder-se diretamente com a senhora, tampouco reconhecer o seu filho (...), ele nunca o abandonará e proverá o meios para a sua existência e educação. A senhora pode, portanto, dirigir-se a mim quando houver algum pedido ou reclamação sobre esse assunto.” 19
As ordens na Corte eram para que a existência da criança fosse mantida em total anonimato. “Acabo de receber notícias do Brazil. Meu Amo ficou muito penhorado de tudo que madame tem feito em bom do seu socego doméstico”, anuncia Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, secretário particular de D. Pedro I, em fevereiro de 1831.
Welcome Pedro!
“His Majesty (...) was touched by the news (...) of the happy birth of his dear son”
The child was born at home in Paris on rue Bergére at six in the afternoon on August 28, 1829. Three days later, Pierre went to the registry office where, at 1:30 pm, he fulfilled the determination of his biological father. He named the newborn Pedro de Alcantara Brazileiro. The surname, however, would be De Saisset, as the Frenchman assumed the boy's paternity. But not for free. The life of a merchant had taught him that everything in this world has a price.
Although his wife's adultery represented a strong exception to the 1816 law, which abolished divorce in France, Pierre chose to maintain the relationship with Clémence. The penal code approved by Napoleon Bonaparte in 1810 gave him powers to even, in addition to the beating he had already applied to the woman, lock her up in prison for up to three years. Pride, morals and honor were the feelings that defined social relations in France in the 19th century.
But together, the couple saw a second path. Why not capitalize on what happened? Immediately, they called Her Majesty's representatives, giving them news of the birth. “I hasten to respond to your charming letter, dated September 4th, received on the 29th of the same month, and immediately submitted to His Majesty the Emperor, who was very touched by the news of your good delivery and happy birth. of your dear son,” says the librarian Germano Lassere in a letter dated November 29, 1829, addressed to Clémence de Saisset.
He goes on to state that “His Majesty the Emperor orders me, Madam, to make known to you the great joy of this moment, as well as to acknowledge receipt of your letters and tell you that they will be answered by Mr. Francisco Gomes.” Lassere's letter reveals that D. Pedro was concerned about not causing his second wife, D. Amélia, the same discontent experienced by Empress Leopoldina. “Her Majesty will not be able to write to you directly because of the disastrous inconveniences that could affect your marriage if these letters were intercepted or made public.”
D. Pedro's librarian assures the Frenchwoman, however, that she and her son would never be abandoned. “His Majesty the Emperor also orders me, Madam, to tell you that although the circumstances do not allow him to correspond directly with you, nor to recognize his son (...), he will never abandon you and will provide the means for their existence and education. You can therefore turn to me when there is any request or complaint on this matter.”
The orders at Court were that the child's existence be kept in complete anonymity. “I have just received news from Brazil. My Master was very attached to everything that madame has done for the good of her domestic peace,” announces Francisco Gomes da Silva, known as Chalaça, private secretary of D. Pedro I, in February 1831.
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